Este artigo foi escrito por: Moacir Sader (Prisma espiritual do autismo), Patrícia Maria Moreira Costa (Nós somos o futuro) e Tainã Barreto Silveira (Importância do acolhimento da pessoa autista nos espaços de saúde)

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Prisma espiritual do Autismo por Moacir Sader

A visão do autismo por perspectiva espiritual apresenta ou apresentava grande equívoco. Digo, apresentava, porque nos últimos anos novas revelações vêm ocorrendo desde o mundo espiritual ou intuitivamente por muitos com dons extrassensoriais trazendo luz ao tema e mostrando uma ótica correta.

E qual era e ainda é para alguns a visão tão equivocada? Aquela em que espíritos com débitos cármicos, adquiridos em outras vidas, encarnam como autista.

Outra visão igualmente incorreta e que eu mesmo acreditava e não mais, é que o autismo seria a fuga do espírito para dentro de si, sem vontade de interagir com as pessoas, por terem nascidos contra a vontade.

E qual foi a causa da mudança de minha perspectiva sobre os autistas? Eu ministrava um curso de Reiki para uma turma presencial em 2019, quando uma aluna me perguntou sobre o que eu achava do autismo, isso em razão de sua filha de 16 anos ter acabado de ser diagnóstica com espectro autista.

Eu iria certamente falar o que pensava até então sobre o assunto, não a questão do carma que nunca acreditei pudesse ser a causa do autismo, mas, sobre a encarnação na Terra sem querer, quando explanei algo completamente intuitivo e bem diferente, certamente inspirado por amigos dimensionais, ainda mais que estávamos no clima de uma aula de Reiki, com muitas energias positivas e amigos espirituais presentes no local e que acompanhariam os iniciados na hora da sintonização. Eu disse:

Os autistas são espíritos que estão tendo, especialmente os que vêm nascendo nos últimos anos, a primeira encarnação na Terra e vindos de planetas/dimensões bem mais evoluídos que a Terra, com a missão de ajudar na melhoria energética e trazendo novos conhecimentos e práticas existenciais, para o processo de elevação da Terra a outro patamar espiritual.

E nesse sentindo, estão trazendo novas conceitos que muitas vezes surpreendem aos pais desde bem jovens, sobre alimentos, de respeito aos animais e à natureza, bem como, especial maneira de amar, quase sempre em equilíbrio, com considerável redução dos efeitos nocivos das paixões.

Esse processo inteligente de transmutação da Terra foi planejado por elevadas esferas dimensionais e conta com o auxílio espontâneo de milhares de amigos dimensionais que continuam nascendo na Terra enquanto autistas, com a finalidade de proporcionar a revolução de dentro para fora, efeito cavalo de Tróia do bem.

E por todo esse planejamento em plena fase de execução, não haverá a necessidade de destruição extrema da vida na Terra ao ponto de ser preciso começar do zero, porque, em tempo não muito distante, a população da Terra será formada unicamente por autistas ou por quem aprendeu essa nova forma de viver no Planeta e assim a Terra será outra, muito melhor, com uma história de respeito mútuo entre as pessoas e em relação a todo tipo de vida existente, com paz e amor desapegado das paixões.

Toda essa explicação que eu dei, não pensado por mim até aquele instante, não podia ser fruto de pura criação mental, até porque falei com tanta convicção, que sabia ser a pura verdade, a mesma convicção que temos quando uma ideia brota intuitivamente. Sabemos que a intuição é a capacidade divina em nós, como ensino aos meus alunos de Reiki, assim como a intuição no reikiano se amplia a cada nova sintonização de Reiki.

Depois fui pesquisar sobre o autismo e espiritualidade e para minha surpresa encontrei outros dizendo algo bem similar, até deparei-me com um importante médium brasileiro que mudou o seu conceito sobre o autismo e estava dizendo em um vídeo quase que a mesma coisa de “minha” nova forma de pensar sobre os autistas. Portanto, entendi ter chegado o tempo de novas e corretas revelações sobre a razão do nascimento de tantos autistas em todos os países.

Ainda durante curso de Reiki, a aluna me contou algumas questões sobre a sua filha em relação às pessoas, de ser amável, respeitosa com tudo que existe, só que, com pouca amizade, bem mais reclusa em casa, saindo quase exclusivamente para a escola, tanto que procurou ajuda, quando veio o diagnóstico de sua filha ser autista e junto com esta avaliação outro erro ao dizer que nada podia ser feito porque não era mais criança, ou seja, demonstrando a dificuldade encontrada em diagnósticos e cuidados à pessoa autista para além da infância.

Como se sabe, ser autista não é doença, considera-se “transtorno” do espectro autista em face de “problemas” em comunicação, de interação social, comportamentais e de possíveis questões sensoriais. E aqui, ao escrever este texto, mais questões afloram intuitivamente.

Realmente, autismo não é doença e nem sei se o termo acima deveria ser esse: “transtorno”, afinal ter diferenças de ser, de pensar, de agir, etc., não deveria ser considerado transtorno, posto que não se consideram transtorno para quem tem comportamento e forma de viver tidos como “comuns” , “normais” ou “típicos”, praticados pela maioria. Será que se fôssemos classificar seriamente o que a maioria faz consigo, com outros seres e com o planeta, não seriam esses “normais” bem mais corretamente definidos como seres cometidos de transtornos?

A meu ver e isso que grita a minha intuição, quiçá transmitido por amigos dimensionais, os autistas são efetivamente os novos normais da Terra, respeitadas as diferenças que eles possuem individualmente, as distinções que todos naturalmente possuem.

É por que estou chamando os autistas de os novos normais? Porque cresce o número de autistas na Terra, na proporção de aumento de 50% a cada cinco anos. A projeção é que, em poucos anos, a metade da população da Terra seja autista e eu digo que mais a frente, em poucas décadas, todos os habitantes da Terra serão autistas ou com a maneira de viver dos autistas.

Muitos dos defeitos de personalidade das pessoas consideradas típicas, tão em voga atualmente deixarão de existir, especialmente as paixões desenfreadas que são as causadoras de tantos sofrimentos e que vêm retendo as pessoas em sucessivas e infrutíferas reencarnações na Terra, quebrando o conceito equivocado de que a reencarnação por si seria o suficiente para a evolução dos espíritos e da Terra, conforme revelei no livro Conspiração Interdimensional.

Realizo Terapia de Regressão e deparo com problemas cármicos que se sucedem por muitas encarnações sem melhoria alguma, erros se repetem na vida atual e que persistiriam em vidas futuras se a pessoa não fizesse a regressão e pudesse acordar da automação nos erros repetidos em centenas ou milhares de anos.

Depois da nova percepção que tive sobre os autistas, eu atendi em Terapia de Regressão uma adolescente que veio confirmar minha nova concepção. Ela me disse não se entrosar com a vida na Terra, sentindo-se estrangeira, não sendo aqui o seu lugar, por tantos erros inaceitáveis cometidos pelas pessoas em geral (ela me repetiu isso muitas vezes). Ao buscar explicações no passado para o seu descompasso com a vida atual, descobri que ela está em sua primeira encarnação na Terra e a levei à sua vida anterior fora da Terra, quando ela descreveu em detalhes o Planeta de onde veio e as pessoas daquele mundo, seu verdadeiro lar. Essa jovem embora sem diagnóstico de autismo, apresenta traços indicadores de ser autista. Outro paciente, com a mesma sensação de não pertencimento a Terra, mas que já teve outras encarnações, igualmente descreveu em regressão como é o seu Planeta-Lar (veja a descrição que ela fez em Antigos e novos espíritos na Terra com missões reveladas em Terapia de Regressão – Sader Terapias Integrativas )

Os novos habitantes da Terra quando forem maioria ou na totalidade, poderemos chamar a Terra de lar, ainda que um lar adotivo, porquanto, em essência, muito de nós viemos de outros planetas, se bem que a maioria está encarnando na Terra em tempo demais, tanto que não se lembra mais das suas origens, o que a terapia de regressão pode ajudar no processo de recordação. Mas, os autistas, ainda com algumas vidas na Terra, os mais jovens em sua primeira encarnação, guardam a lembrança emocional de suas vidas em outros Planetas, daí o descompasso com o modo de vida na Terra, ainda mais o praticado pelas pessoas típicas.

Neste novo tempo porvir em “nosso” Planeta, dominado pelo bem, pelos autistas, pelos que hoje são considerados neurodiversos, haverá tanto acolhimento, amor e respeito a tudo que existe, que dará gosto de viver na Terra e ela estará pronta para acender à quinta ou a outras dimensões superiores.

O novo normal, portanto, é ser autista, mas essa nomenclatura desaparecerá no futuro, e possivelmente haverá uma nomenclatura do tipo transtorno de espectro de alguma coisa para as pessoas que hoje são tidas como “típicas”, especialmente no tempo em que esses “normais” forem minoria.

A raça humana como a conhecemos atualmente, em face de suas formas de viver tão equivocadas da maioria não será reconhecida no futuro como de pessoas típicas, mas de alguns espectros fora da normalidade porque essas pessoas estarão divergentes do novo padrão e se sentirão descolocadas do convívio, pois o padrão vibracional/ intelectual da Terra será completamente outro, de origem desses elevados planetas de onde estão vindo os novos habitantes, para edificar um novo planeta que está em fase veloz de renascimento e implantação de nova raça.

Mas, por que então os autistas necessitam de apoio de profissional de algumas áreas da saúde? Exatamente pela dificuldade que é nascer na Terra, tão atrasada em relação aos seus planetas de origens. Uma adaptação bem difícil, razão pela qual é bem-vinda e necessária a ajuda de profissionais tanto para as crianças quanto adultos autistas. Essa atuação de profissional não é para “curar” autismo, porque o autismo não é doença, mas, para colaborar no processo de aceitação de sua nova vida em um planeta com tamanha diversidade, densidade espiritual, energética e cheio de problemas de toda ordem. Se mal comparando, sair de elevadas dimensões para viver na Terra é como mudar da terceira dimensão terrena para o umbral, uma adaptação dificílima pela densidade e que, portanto, precisa de muita apoio para não sucumbir na inconsciência ou com afastamento do convívio.

O “tratamento” que os autistas precisam não visa a transformá-los em seres “iguais” aos diferentes existentes aqui. Não é por esse motivo que eles estão nascendo em nosso mundo, pelo contrário, vieram para desfazer esses conceitos de vida, de convívio e de amar, uma vez que as atitudes dos ditos “normais” são essencialmente tóxicas e vêm reduzindo criticamente a qualidade de vida na Terra, situação que a levaria inevitavelmente a um final definitivo, a uma possível guerra nuclear ou cataclismos terríveis, zerando a possibilidade de vida na Terra por milhões de anos.

Por tudo isso, ratifico, visões de autismo ligadas ao carma ou qualquer outro similar são extremamente errôneas, posto que, como vimos, a missão dos autistas é salvar o Planeta. Assim, devemos recebê-los com amor e compreensão e ajudá-los na adaptação mínima sem querer alterar as suas qualidades, as qualidades especiais de seus espíritos. Eles são amigos dimensionais que resolveram participar de um projeto interdimensional dificílimo, assumido por imenso amor espiritual a Terra.

Os autistas estão aqui para nos ajudar a despertar, ascender espiritualmente, o que nos permitirá renascer na nova Terra em futuras encarnações ou em planetas mais evoluídas, ao tempo eu que as pessoas, mantidas por suas escolhas no sono terreno, na vida típica dos “normais”, não poderão viver mais aqui ou renascer futuramente na Terra Transformada e irão, inevitavelmente, para planetas bem mais atrasados, porquanto a Terra, em tempo histórico não muito distante, somente será habitada pelos Novos Normais (os autistas e as pessoas que aprenderam com os autistas o novo existencial).

Moacir Sader é escritor espiritualista com diversos livros sobre o Reiki e outras temáticas, entre os quais O Poder do Reiki e os romances Conspiração Interdimensional e Anunnaki Deuses da Terra; ministra cursos de Reiki Usui, Karuna e Chama Violeta e é terapeuta de regressão com sessões presenciais e on-line por videoconferência.

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Nós somos o futuro por Patrícia Maria Moreira Costa

Muitos se espantam com o fato de estarmos crescendo em número, nós, os autistas.  Mas isso é só o começo.  O início de um despertar, de um chamado a uma nova era. O mundo já passou por tantas mudanças, essa é só mais uma e os autistas, assim como outros indivíduos classificados como “diferentes” serão parte atuante da nossa quebra de paradigmas do que é normalidade.

Neste artigo vou me focar apenas no autismo embora saiba que todas as diferenças sempre serão bem-vindas.

E nossa diferença que só é invisível aos olhos de quem não quer ver, sempre incomodou.  Tentaram muitas vezes nos exterminar, mesmo antes de sermos chamados de autistas.  Nos queimaram em fogueiras, nos enviaram mar adentro em naus sem destino.  Não nos queriam nas cidades. Muitas vezes nem as famílias nos queriam.  Fomos exterminados na Alemanha nazista.  Milhares de crianças autistas consideradas “não funcionais” foram mortas.  Recebemos choques elétricos para fazer com que ficássemos parecidos aos ditos normais.  Nos fizeram sentir que éramos inadequados. Nos fizeram nos perder de nossa essência e nós mesmos passamos a questionar a nossa sanidade e a ter cada vez mais certeza de que esse mundo não nos desejava ou que não fazíamos parte dele. E esse ideal eugenista existe até hoje. É um eco histórico de longa duração que interessa ao sistema biopolítico.

A história, a vejo como uma espiral.  Os momentos não se repetem da mesma forma, mas passam por um ponto próximo em que se tornam muito parecidos e aqui me refiro a eugenia.  Ela persiste e é alimentada por grupos poderosos economicamente. Quando nos negam direitos básicos, quando não há preocupação real com inclusão, quando nos transformam em mercadoria, quando debocham de nossas características peculiares e tentam fazê-las desaparecer.

Nós, os autistas, temos características diversas e diversificadas.  Alguns de nós são falantes, outros falam pouco ou sequer falam, mas isso não quer dizer que não se comuniquem.  O mundo neurotípico preza a comunicação verbal em detrimento de outras formas de inteligência, expressão e comunicação. 

Poucos querem enxergar que temos um sistema operacional diferente, mais delicado e o mundo nos força através da exclusão, solidão, falta de inclusão, falta de meios de subsistência, que a gente se force a se adaptar ao sistema comum.

Alguns de nós são tão sensíveis que o ter que se adaptar acaba nos gerando crises violentas, pois não conseguimos nos fazer entender. E existe um mundo enorme dentro de cada um de nós que em muitos permanece escondido, as vezes até muito tarde, e as vezes morremos sem colocar para fora nosso jeito de ser.

Tentaram e conseguiram nos dividir em níveis e com isso nos dividiram e hierarquizaram, mas muitos de nós não desistimos de lutar pela nossa união e para mostrar que todos nós temos uma mensagem e ela precisa ser externalizada.  Começamos a trazer a luz o conceito de neurodiversidade que é o mais inclusivo possível e isso aos poucos vai mudar tudo.  Todos verão que o mundo é e sempre foi neurodiverso, que aceitar as diferenças como algo inerente a espécie humana é inevitável. Acredito que o autismo ensina muito aos olhos de quem vê e isso acontece de forma natural a quem está aberto a aprender com as diferenças.

O autismo em si é pacífico, é calmo, é focado. O autismo em si não precisa das distrações frenéticas do mundo. Nossa essência é diferente.  O ser autista fica feliz com pouquíssimas pessoas e também sozinho seja na natureza fazendo qualquer tipo de arte, desvendando cálculos, escrevendo, tendo contato com animais, ou simplesmente viajando na sua imaginação. O autista se diverte com pouco. Sua essência é livre, suas regras são únicas e geralmente justas.

Posso dizer que o que nos desequilibra, o que causa agonia e crise é ter que viver ainda num mundo brutal. Um mundo que agride a nossa essência a cada segundo seja com ruídos, luzes exageradas, cobranças impossíveis para nós. E aí que algumas comorbidades aparecem como depressão, complexo de inferioridade, ansiedade, pânico e acredito que até a disfunção executiva seja fruto de ser imposto a nós um ritmo de trabalho incompatível com o nosso sistema operacional. Podemos ser altamente produtivos e inovadores quando nosso sistema é respeitado. Portanto, muitas condições associadas ou comorbidades, são fruto do desequilíbrio, do ter que corromper a nossa essência, o nosso jeito de ser.

Os neurotípicos deveriam nos olhar não como os estranhos, mas sim, como o futuro. Crianças autistas não param de nascer e vão continuar nascendo e cada vez mais vão existir plenamente como são. Olhem e aprendam com um autista a se divertir com pouco. O mundo típico não é verdadeiramente feliz pois não escuta a voz interior. O mundo típico já não se sustenta mais de forma saudável. Prova disso é o desejo de evasão das grandes cidades. Nem os neurotipicos aguentam mais a balbúrdia que criaram. E quando digo diversão, vou exatamente ao oposto do mundo típico. Diversão é algo mais profundo, que acrescenta algo ao nosso crescimento. Diversão está longe do barulho, aglomeração, gritaria. Isso não é diversão. É anestesia da dor e do vazio.  A alegria verdadeira é silenciosa e fala ao espírito.

Nossos valores são outros, mas nos forçam a nos adaptar a um sistema falido porque vocês têm medo da diferença. A biopolítica que busca moldar corpos e mentes têm pavor do diferente.

Segundo Foucault, no livro “Nascimento da Biopolítica”, mostra como o poder se desenvolve e passa a moldar e conduzir a vida em sociedade buscando regular as populações para que estas reproduzam os interesses do poder, dos governos. A biopolítica busca controlar nossos corpos e mentes visando manter e ampliar a relação de dominação da população. A nossa vida passa a ser algo a ser manipulado e assim o diferente incomoda e desafia.

E como nós autistas, os considerados diferentes, aqueles “fora da curva” que não interessam ao sistema? O mecanismo é antigo. Gerar medo, desconfiança, invalidação. Por isso não dá para separar o autismo da política, da história e da antropologia. 

Mas nós estamos usando a tecnologia a nosso favor.  Ela facilita a nossa união.  E nossa união será fundamental para a nossa libertação pois o Estado não se preocupa com a gente.  Temos que reforçar cada vez mais o lema da neurodiversidade que afirma: ”nada sobre nós sem nós”, ou seja, nada pode ser falado sobre nós sem a nossa participação ativa.  Porque nós temos voz! 

Esse é o chamado para despertarmos e deixarmos de lado as diferenças plantadas pela sociedade neurotípica para nos dividir.  Somos todos autistas, cada um com a sua singularidade. Vamos lembrar quem somos, e que nós é que temos coisas a ensinar e não o contrário. O contrário já provou que não deu certo. Está gerando só mais violência.

Vamos sim, cobrar todos os nossos direitos do Estado. Vamos cobrar políticas públicas, mas não vamos ficar parados nas mãos deles. Vamos deixar nossos egos de lado, e vamos criar redes de apoio reais criadas por nós e para nós. Quando isso acontece é mágico, porque acontece com amor verdadeiro pois sabemos o que precisamos mais do que ninguém.

Olhem para dentro profundamente e atendam ao chamado.  O futuro é nosso.

Patrícia Maria Moreira Costa é Historiadora e Antropóloga com mestrado pela UERJ e hoje dedica-se a escrever sobre o autismo dentro de sua perspectiva pessoal e acadêmica. Descobriu-se autista, savant e tdah com 53 anos e desde então dedica-se a causa da neurodiversidade, em seu Instagram @olhar.atipico,  tendo publicado o livro Olhar atípico: o autismo e eu contando suas experiências pessoais pós diagnóstico, publicado pela Atípica Editora em 2022.

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A importância do acolhimento da pessoa autista nos espaços de saúde por Tainã Barreto Silveira

Hoje, inúmeros são os relatos de pessoas que passam por invalidação nos serviços de saúde. A luta de famílias para garantir as terapias necessárias para suas crianças, pós-diagnóstico, a luta dos adultos por acolhimento, reconhecimento e validação de suas questões – que por vezes passaram escondidas durante toda uma vida. A busca pelo diagnóstico tardio. O diagnóstico de autismo envolve luta em todos os momentos: Luta por direitos, por acolhimento, por acomodações necessárias, por visibilidade, por respeito, são tantas lutas que é impossível enumerá-las de forma objetiva. Mas o que nos define, é, certamente: luta para SER, com todas as garantias que essa palavra detém.

Essas lutas são travadas intensamente pelas famílias, quando falamos do diagnóstico precoce, na infância. Famílias que lutam com todas as suas forças para garantir a acessibilidade a inclusão de sua criança, em todos os contextos.  Quando diante do diagnóstico tardio (ou suspeita diagnóstica) de autismo, na maior parte das vezes trata-se de uma luta individual, sem (ou com pouco) apoio ou acolhimento, o que torna a busca ainda mais sofrida, desgastante. É importante frisar que, ao abordar pessoas adultas, consideramos a experiência em toda a sua pluralidade e individualidade, mas que se esbarra em dificuldades em comum.

Muitos adultos autistas que receberam seu diagnóstico tardiamente trazem relatos como: “Eu quase desisti de procurar as minhas respostas…”, evidenciando o desgaste emocional no processo. Eu sou parte dessa vivência: diagnóstico tardio, aos 30 anos. Essa fala sumariza os desafios de toda uma vida com dificuldades silenciadas, escondidas, camufladas. Ocultas e bem protegidas (tão eficientemente, que por vezes até de si mesmo), com uma série de mecanismos e fora do alcance de toda uma sociedade que não proporciona espaço ao atípico, ao novo, ao diferente, ao que rompe com o padrão. Essas dificuldades podem acompanhar a pessoa durante toda uma vida antes de serem identificadas profissionalmente e acarretar prejuízos associados à falta de acessibilidade ao serviço de saúde e apoio emocional durante a vida na infância e na adolescência.

As dificuldades de correspondência social e sentimentos de inadequação podem ser vividos desde cedo diante das regras e o funcionamento da sociedade como um todo, da cultura, dos contextos sociais, que são aprendidos durante o nosso desenvolvimento. Assim como são aprendidos quais comportamentos serão aceitos, quais não. Como devemos nos portar, corresponder, como devemos nos comunicar. Como devemos mexer (ou não) o nosso corpo, para cada situação, contexto. Como deve ser nossa postura, como deve ser nosso olhar. Como devemos nos vestir, como devemos sorrir, em qual momento – em que tempo abraçar, em que tempo…:

“Sorrir? Sorria de cantinho, não precisa sorrir muito, pois também ficaria estranho. Tenta mostrar um pouquinho dos dentes só. Não, mostrou demais. Fecha os lábios e continua sorrindo! Mas… Também não fica tão séria, né? Que cara amarrada. Não precisa tombar a cabeça pro lado. Olha pra mim quando eu estiver falando, que falta de educação, quem quer falar com alguém que não está olhando?. Olha pra foto. Olha pra mim. Olha pra foto. Sorria para a foto. Eita, essa perna mexendo sem parar aí. Vai demonstrar que tá nervosa? Segura essa perna aí! Vai tomar uma aguinha, vai. Você tá com uma cara muito triste. Está cansada? Nossa, tá se arrastando toda. Melhora a postura que tudo melhora, melhora essa cara, não tem como fazer nada com essa cara, credo…

(sátira de fórmulas precoces de regras sociais que levam à camuflagem)

As regras são claras, bem como as punições sociais, que são constantemente anunciadas, mesmo que de maneira velada.

Se sentir desajeitado e constantemente atento às próprias ações, planejando-as, com excessivo receio de errar, pode ser uma vivência de uma pessoa autista adulta, com ou sem diagnóstico confirmado. Essa vivência de dificuldades desde a infância, que se desenrola ao longo da vida e a falta de acesso aos tratamentos precocemente pode contribuir para o desenvolvimento de quadros de ansiedade, depressão, pânico, distúrbios do sono, desatenção e hiperatividade, transtornos alimentares, que normalmente são alguns dos diagnósticos que serão “vistos” inicialmente em pessoas adultas e que, posteriormente, podem vir a receber o diagnóstico de autismo quando forem realizadas avaliações profundas de suas habilidades, dificuldades e sofrimentos ao longo de toda a vida, momento em que poderá se identificar, portanto, os critérios diagnósticos necessários para a confirmação do autismo. Aí está um momento de muita sensibilidade no processo: Quando as dificuldades e necessidades urgem de serem avaliadas, acolhidas e validadas por outra pessoa (normalmente um profissional da saúde), esbarramos em mais uma série de dificuldades, uma série de preconceitos, capacitismo, violências, que não são cabíveis de forma alguma em espaços destinados à saúde mental, integral do paciente.

O acompanhamento ideal é o multidisciplinar, integrativo, contando com o olhar de especialistas que possam trabalhar em parceria e em benefício do paciente, sendo sua qualidade de vida o objetivo terapêutico principal.  

Para que isso aconteça, o acolhimento do paciente é essencial, pois ele está em um importante momento e um grande movimento de busca. O paciente adulto em busca do diagnóstico pode comparecer ao serviço de saúde com muita dificuldade, receios e um histórico de frustrações e invalidações durante toda a vida. Independente de qual seja o serviço de saúde buscado inicialmente, é importante que o paciente seja acolhido integralmente e que suas dificuldades e vivências sejam investigadas a fundo, sem que haja uma visão estereotipada do que é o autismo e uma rápida invalidação do que o paciente veio buscar, em qualquer que seja a área de saber. É importante lembrar, mais uma vez, que autismo não tem cara. Não é possível bater o olho e descartar qualquer que seja a questão do paciente, pelo aspecto que ele tem, por características quaisquer. O autismo é invisível, neste sentido. Não será através de características físicas e leitura rápida do comportamento de uma pessoa, que será possível identificar suas questões mais profundas e sua forma de estar no mundo.

É preciso considerar na avaliação, inclusive, como está o conforto pessoal da pessoa atendida no ambiente clínico, no contexto interpessoal em que ela está inserida em uma consulta de avaliação:

  1. Ela se sente confortável?
  2. O ambiente pode estar promovendo desconfortos (emocionais, sensoriais)?
  3. Existem outras modalidades possíveis de atendimento, que possibilitem maior conforto do paciente? (Presencial, online, momentos assíncronos)
  4.  A própria situação de avaliação, por ser uma avaliação, pode estar colaborando para uma dificuldade comunicativa, de acesso e expressão dos sentimentos do paciente?
  5. A forma de conduzir sua avaliação, seu modo de perguntar e analisar os sinais de autismo estão sendo acolhedores, considerando que este paciente pode ter comparecido ao serviço de saúde com um histórico dolorido demais e com histórico de dificuldades comunicativas durante sua vida?
  6. O paciente tem abertura de expressão livre durante as sessões avaliativas? Se não, ao serem observados comportamentos de retraimento, desconforto, o profissional é capaz de promover o conforto deste paciente através de adaptações sensoriais e de comunicação?
  7. Existem outros recursos disponíveis para a comunicação que são acolhidos em uma avaliação clínica? Seja a comunicação através da escrita, expressão no desenho, comunicação alternativa?

Estes são alguns questionamentos importantes de serem feitos constantemente pelo profissional que atende pessoas! Uma avaliação constante, deste e de outros pontos individuais que podem surgir durante uma avaliação, pois cada avaliação é única, embora façamos o rastreio de sinais clínicos.

Por isso, o profissional precisa acolher todo aquele ser humano que chega até ele e caminhar com ele para o melhor e mais humano acompanhamento (ou encaminhamento) possível. 

Caso o profissional encontre dúvidas com relação a leitura e avaliação das dificuldades deste paciente, que possa acolhê-lo e o encaminhar com segurança para quem poderá dar continuidade, validando sua vivência e o impulsionando a seguir suas buscas, orientando o caminho e oferendo suporte até a transição deste paciente até o outro profissional que o acolherá.

Esses espaços de saúde têm sido conquistados através de muita luta e desgaste, muita união da comunidade autista, através do posicionamento e do relato de tantas dificuldades encontradas em todo o processo da descoberta do diagnóstico. Esses relatos são importantíssimos para que os profissionais da saúde se alertem para um problema de saúde pública que estamos vivenciando. E um problema humano, também.

O acolhimento da pessoa autista adulta, seja em busca do diagnóstico ou com seu diagnóstico tardio precisa, urgentemente, mudar, em todos os âmbitos, para que as pessoas possam enfim ter acessibilidade e acesso à saúde, com tratamentos indicados de acordo com suas necessidades individuais.

O acolhimento e acompanhamento adequado na área da saúde pode salvar muitas vidas. Pode mudar histórias, pode auxiliar no redescobrimento de si, no empoderamento de si, de seu diagnóstico, de suas potencialidades. Auxiliar o indivíduo a se posicionar nos mais diversos contextos e romper, transcender estruturas vivenciadas por ele, que pode ter se sentido desconexo por toda uma vida e agora o mundo se abre: se aproximar do público, outros como ele, da comunidade, da rede de apoio, o acesso às terapias necessárias, a compreensão do que é preciso. O alívio de uma dor carregada ao longo da vida.

É preciso que nos diversos contextos de saúde e nos diversos saberes, se acolha a neurodiversidade e seu grande e crescente movimento, com atendimento adequado e tratamentos que possam trazer qualidade de vida, maior independência e empoderamento à pessoa autista/neurodiversa, que hoje se descobre e se desabrocha no meio de tantas dificuldades, para conquistar todos os espaços que lhes faltaram ao longo da vida. Para conquistar melhorias e exigir mudanças na sociedade.

Precisamos exigir que não mais nos adaptemos, a custo de nossa saúde física, mental e social (tentamos e sofremos tanto no processo) e sim, que a sociedade esteja preparada para se adaptar às nossas necessidades enquanto pessoas neurodiversas.

Através do acompanhamento adequado, as dificuldades de toda uma vida podem finalmente ter voz, a pessoa pode alcançar outros níveis de independência, resolução de problemas, compreensão de si e dos seus estados corporais/sensoriais, aprender recursos para se sentir melhor no mundo, neste mundo que não foi apoiador até então.

Auxiliar a pessoa autista a desbravar seus direitos no mundo é uma necessidade a ser praticada em todos os espaços de saúde e nos novos projetos que virão diante de um cenário tão difícil de acessibilidade. É preciso conversar com outras áreas, outras visões, outros tratamentos, é preciso expandir esses cuidados e descentralizar, cada vez mais.

É importante lembrarmos que profissionais da saúde devem estar aqui para garantir o desenvolvimento do paciente em todos os aspectos de sua vida. Sejam eles espaços médicos, psicológicos, fonoaudiólogos, psicopedagógicos, terapia ocupacional, espaços integrativos da saúde – em geral.  Nos espaços em que o paciente precisar e desejar estar, com todos os seus direitos assegurados. As áreas, mais do que nunca, precisam dialogar – cada vez mais – em prol do acompanhamento adequado em todas as etapas da vivência do paciente…  Para finalmente, com acompanhamento, com cuidados, com acolhimento, ser o que ele tanto lutou para ser: ele mesmo. Cada vez mais ele mesmo!

 

Tainã Barreto Silveira, Autista, Psicólogo (CRP 16/4118), transmasculino.  Pós-graduação em Psicologia e Transtornos do Espectro Autista. Pós-graduação em Intervenção ABA para Autismo e Deficiência Intelectual. Pós-Graduando em Gênero e Sexualidade. Faz atendimentos em Psicologia presencial e à distância; acompanhamento em equipe multidisciplinar; realiza avaliação diagnóstica-Autismo em crianças (presencial) e em adultos (presencial e à distância) com agendamento em ficha de inscrição disponível no link: https://linktr.ee/psitaibarreto WhatsApp 27-99945-9448 / Instagram @psitaibarreto / tainabarretos@gmail.com

Bibliografia

Donvan, John & Zucker, Caren. “Outra Sintonia- A História do Autismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

Foucalt, Michel. “História da Loucura”. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1987.

Foucalt, Michel. “Nascimento da biopolítica”.  São Paulo. Edições 70, 2010.

Michelet, Jules. “ A Feiticeira. 500 anos de transformação na figura da mulher”. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1992.

Sheffer,Edith. “Crianças de Asperger. As Origens do Autismo na Viena Nazista”. Rio de Janeiro. Ed. Record, 2019.

Imagem de capa desta postagem criada por janeb13 por Pixabay

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Moacir Sader

Moacir Sader é Terapeuta de Regressão e Mestre de Reiki Usui, Karuna e Chama Violeta, credenciado como Terapeuta holístico sob o número CRT48508, licenciatura em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo, pesquisador e escritor de temas ligados à espiritualidade e autor dos livros: O Poder do Reiki; Reiki & espiritualidade; Torusthá novo símbolo ensinado por Jesus; Conspiração interdimensional, Anunnaki deuses da Terra, entre outros.

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